Atualizado em 24/07/2023 por Ana Luiza
O Real Digital, iniciativa do Banco Central do Brasil que busca lançar a versão digital da moeda nacional, está gerando expectativas no cenário econômico brasileiro. Para o novo diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso, o sistema de tokenização associado ao Real Digital tem o potencial de mudar significativamente o sistema financeiro nacional, possibilitando novas modalidades de financiamento para empreendimentos na economia do país.
As CBDCs (Central Bank Digital Currencies), como o Real Digital, são consideradas uma novidade tanto para o mercado financeiro quanto para a economia como um todo. Otávio Damaso ressalta que, apesar da inovação, tais mudanças não impedem que sejam fatores importantes para a transformação da economia brasileira.
Tokenização do Real Digital
Em um evento recente, Otávio Damaso declarou: “Precisamos aceitar e conhecer a tokenização e reconhecer seu potencial. Este é um tema fundamental e está na agenda do governo”.
Denise Cinelli, Country Manager da CryptoMarket no Brasil, ao discutir o Real Digital, acredita que a CBDC brasileira se destaca como uma das mais avançadas do mundo. A implementação bem-sucedida da versão digital do Real pode colocar o país em um novo patamar no cenário econômico global, abrindo portas para negociações internacionais.
O Real Digital já está em funcionamento em sua versão de projeto-piloto e tem previsão de lançamento para o ano de 2024, conforme informações divulgadas pelo Banco Central do Brasil. A moeda digital brasileira tem o propósito de incentivar a digitalização dos consumidores e a inclusão bancária para aqueles que ainda não utilizam contas bancárias.
A tokenização, que será oferecida pelo Real Digital, promete oferecer aos usuários novas formas de automação e registro de ativos em um mesmo ambiente. Anderson Lucas, Vice-presidente de Negócios da FIS, destaca que a moeda digital do Brasil, criada pelo BC, trará mais infraestrutura para o mercado e contribuirá para uma economia tokenizada. A expectativa é que essa nova solução tecnológica revolucione o mercado, proporcionando aos consumidores e empresas serviços que vão além dos pagamentos digitais.
Um exemplo prático do impacto do Real Digital é a automatização de entregas e recebimentos de serviços prestados, conhecido como Delivery versus Payment (DvP). Contratos inteligentes definem metas para a transação, e quando todo o processo de transferência é concluído, o pagamento é realizado de forma automática, aumentando a segurança e a velocidade das transações.
CBDC será importante para negócios e empresas
Especialistas alertam para a importância de as empresas iniciarem imediatamente o processo de transformação digital, compreendendo que a tokenização e o Real Digital trarão novas oportunidades de negócios. Henrique de Castro, especialista em inovação e CEO da New Rizon, enfatiza que é fundamental entender quais processos podem ser automatizados para que eles se integrem com a entrega de dinheiro no futuro.
O desenvolvimento do Real Digital é realizado em uma iniciativa de código aberto chamada Hyperledger Besu, o que possibilita a criação de soluções inovadoras. Essa antecipação permite que diversos testes sejam realizados, evitando problemas de segurança no lançamento da moeda ao público. Um dos principais desafios é garantir a segurança e privacidade da rede, além de respeitar os princípios de uso das criptomoedas e da Blockchain para evitar uma migração em massa dos usuários para exchanges estrangeiras.
A preocupação com segurança também foi destaque no primeiro Fórum do Real Digital, promovido pelo Banco Central brasileiro. Fábio Araujo, coordenador da iniciativa no Banco Central, demonstrou preocupação com o funcionamento da privacidade da rede e a certeza de que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) está sendo garantida pela infraestrutura. A necessidade de profissionais qualificados e investimentos em segurança é enfatizada para evitar possíveis invasões e vazamentos de dados pessoais, que podem resultar em multas substanciais para as empresas infratoras.
Real Digital é um avanço, mas falta regulamentação
No âmbito empresarial, Henrique de Castro ressalta a importância de todos se atualizarem e tornarem-se “tech-savvy”, ou seja, ter facilidade para aprender e utilizar novas tecnologias. Ele destaca que não é necessário ser um programador ou profissional de tecnologia para promover a inovação. Aceitar soluções tecnológicas, como o PIX, por exemplo, já é uma forma de inovar e acompanhar as mudanças no mercado.
Quanto à regulamentação das criptomoedas no país, Denise Cinelli aponta que elas têm ganhado espaço no mercado financeiro e se tornam cada vez mais relevantes. No entanto, o maior desafio para o Banco Central será inovar, considerando a natureza descentralizada e privada das criptomoedas. A regulamentação das criptomoedas que passarem por exchanges é considerada uma etapa importante para garantir a segurança e a estabilidade do mercado.
Cinelli sugere a criação de uma “terceira via”, buscando um equilíbrio entre liberdade e segurança, para que tanto os usuários quanto os operadores sigam regras específicas que proporcionem maior garantia e proteção para todos os envolvidos.
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