Atualizado em 05/09/2024 por Ana Luiza
O Banco Central do Brasil (BC) revelou recentemente os projetos selecionados para a segunda fase de testes do Piloto Drex, o programa que busca implementar o real digital, uma moeda digital oficial do país. A divulgação, feita em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), indica os próximos passos para o desenvolvimento de novos serviços financeiros digitais baseados em smart contracts.
A proposta do Drex, conforme descrita pelo BC, é trazer inovações tecnológicas para o sistema financeiro brasileiro. Nesta etapa, os 13 temas selecionados entre 42 propostas apresentadas serão testados e refinados. A lista inclui desde transações envolvendo títulos públicos e privados até negociações de ativos imobiliários e do agronegócio. Esses serviços terão como base contratos inteligentes, criados e geridos pelos participantes do consórcio.
A jornada do Drex
Lançado em maio de 2024, o Piloto Drex tem como principal objetivo integrar o real digital ao cotidiano do sistema financeiro do país. Com a crescente digitalização do mercado financeiro, o BC considera o Drex uma peça central na modernização das operações financeiras no Brasil.
Durante a primeira fase, o BC e a CVM se concentraram em avaliar a viabilidade da infraestrutura tecnológica para o Drex. Agora, na segunda fase, o foco está em testar e aprimorar os serviços financeiros por meio de smart contracts. Esses contratos inteligentes são programas que executam automaticamente acordos predefinidos entre as partes, sem a necessidade de intermediários tradicionais.
Segundo o BC, os próximos meses serão dedicados ao desenvolvimento dos projetos selecionados, com o intuito de testar a implementação e debater questões de governança, privacidade e estratégia de uso.
Os participantes desse processo não apenas ajudarão a moldar o real digital, mas também testarão o potencial do Drex para integrar novas soluções tecnológicas ao sistema financeiro brasileiro.
Os consórcios e os temas selecionados
Dentre os 13 temas aprovados para a segunda fase, destacam-se iniciativas voltadas para a cessão de recebíveis, crédito colateralizado, otimização do mercado de câmbio e financiamento de operações de comércio internacional. Os consórcios selecionados incluem grandes instituições financeiras, como o Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa, além de fintechs e empresas de tecnologia como Nubank e XP Investimentos.
A lista dos temas e consórcios participantes reflete a diversidade de setores envolvidos no Piloto Drex:
- Cessão de recebível: ABC e Inter.
- Crédito colateralizado em CDB: Banco do Brasil, Bradesco e Itaú.
- Crédito colateralizado em títulos públicos: ABBC, ABC e MB.
- Financiamento de operações de comércio internacional (Trade Finance): Inter.
- Otimização do mercado de câmbio: XP-Visa e Nubank.
- Piscina de liquidez para negociação de títulos públicos: ABC, Inter e MB.
- Transações com Cédulas de Crédito Bancário: ABBC.
- Transações com ativos do agronegócio (CVM): TecBan, MB e XP-Visa.
- Transações com ativos em redes públicas: MB.
- Transações com automóveis: B3, BV e Santander.
- Transações com créditos e descarbonização (CBIO): Santander.
- Transações com debêntures (CVM): B3, BTG e Santander.
- Transações com imóveis: Banco do Brasil, Caixa e SFCoop.
Implicações para o sistema financeiro brasileiro
A digitalização do real promete transformar a forma como os brasileiros lidam com o dinheiro, especialmente nas transações de alto valor. O uso de contratos inteligentes para gerenciar essas transações oferece uma nova camada de segurança e eficiência, ao mesmo tempo em que reduz a necessidade de intermediários.
Além disso, a integração do real digital no sistema financeiro tradicional pode abrir caminho para uma maior inclusão financeira. Com o uso de tecnologia blockchain e contratos inteligentes, é possível oferecer serviços financeiros a um público mais amplo, incluindo aqueles que tradicionalmente têm menos acesso a bancos e instituições financeiras.
Por outro lado, o BC e os participantes do consórcio ainda precisam enfrentar desafios relacionados à governança e à privacidade das operações. Uma das principais preocupações levantadas é como garantir que os contratos inteligentes funcionem de maneira transparente, sem comprometer a segurança dos dados dos usuários.
O papel do Banco Central e da CVM
O envolvimento direto do Banco Central e da CVM é um dos fatores que trazem credibilidade ao projeto. Ao unir forças, essas duas instituições garantem que o Drex siga as regulações necessárias para manter a estabilidade do sistema financeiro, ao mesmo tempo em que promove inovações tecnológicas.
Conforme a lista de projetos selecionados para a segunda fase foi divulgada, o BC reafirmou seu compromisso de manter um processo transparente e colaborativo. Ao longo das próximas semanas, o desenvolvimento dos projetos acontecerá em ambientes de debate, onde reguladores e participantes discutirão estratégias de implementação.
Além disso, ao longo do terceiro trimestre de 2024, o BC planeja abrir uma nova chamada para propostas de entidades interessadas em participar do Piloto Drex. Isso demonstra a disposição do Banco Central em expandir o projeto e envolver ainda mais players do mercado.
Próximos passos do Piloto Drex
O calendário estabelecido pelo BC prevê que os testes da segunda fase do Piloto Drex continuarão até o fim do primeiro semestre de 2025. Durante esse período, os consórcios participantes terão a oportunidade de testar seus serviços financeiros baseados em contratos inteligentes.
A conclusão bem-sucedida dessa fase será fundamental para a decisão sobre a adoção em larga escala do real digital no Brasil. No entanto, o BC deixa claro que o projeto ainda está em desenvolvimento e que ajustes poderão ser feitos conforme os testes avancem.
Para o BC, o real digital não é apenas uma resposta à crescente digitalização das finanças, mas uma oportunidade de liderar a transformação do sistema financeiro brasileiro. E, ao que tudo indica, a segunda fase do Piloto Drex será crucial para determinar o sucesso dessa iniciativa.