Atualizado em 03/09/2024 por Ana Luiza
A plataforma Bluesky, uma rede social descentralizada cofundada por Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter, viu seu número de usuários disparar após uma decisão judicial que baniu o Twitter, agora chamado de X, no Brasil. Em apenas três dias, a Bluesky ganhou um milhão de novos usuários brasileiros, transformando a dinâmica da rede social e forçando a empresa a lidar com desafios técnicos e de infraestrutura.
O Contexto do Banimento do Twitter no Brasil
A proibição do X no Brasil foi resultado de uma decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF). O tribunal impôs essa medida extrema após a recusa de Elon Musk, atual proprietário do X, em cumprir ordens judiciais para remover conteúdo considerado ilegal e nomear um representante legal no país. A decisão do STF, tomada na segunda-feira, 2 de setembro de 2024, afetou diretamente os 21,5 milhões de usuários brasileiros, tornando o Brasil o sexto maior mercado global do X. Além disso, a proibição veio acompanhada de penalidades rigorosas para aqueles que tentarem contornar a decisão judicial usando VPNs, com multas diárias de R$ 50 mil e a possibilidade de acusações criminais.
O impacto do banimento no valor corporativo do X foi significativo. Desde que Musk adquiriu a empresa por US$ 44 bilhões em 2022, seu valor de mercado despencou 72%, segundo a Fidelity, que rebaixou o valor das ações do X para US$ 15, muito abaixo dos US$ 54,20 pagos por Musk. As perdas financeiras se estenderam aos parceiros de Musk, que participaram da compra da plataforma, resultando em prejuízos bilionários.
Bluesky: A Alternativa que Ganhou Força
Com o X fora do ar no Brasil, os usuários brasileiros rapidamente buscaram alternativas, e a Bluesky emergiu como a principal escolha. A plataforma, que começou como um projeto interno do Twitter em 2019 e se tornou independente em 2021, oferece uma experiência semelhante ao X. Os usuários podem publicar atualizações de texto com até 300 caracteres, compartilhar fotos e republicar conteúdo. Desde fevereiro, o registro na Bluesky está aberto ao público, sem a necessidade de um código de convite, o que facilitou o crescimento explosivo da base de usuários.
A chegada de um milhão de novos usuários em apenas três dias foi bem recebida pela equipe da Bluesky, que comemorou o marco com uma publicação celebrando o crescimento da plataforma. No entanto, o aumento repentino na carga de usuários causou desafios técnicos. Um engenheiro de back-end da Bluesky relatou que o serviço enfrentou uma carga de servidor 20 vezes maior do que o normal, resultando em problemas de estabilidade. O painel público de métricas do Bluesky mostrou que a plataforma agora conta com quase 7,8 milhões de usuários registrados.
Para acomodar seu novo público, a Bluesky começou a publicar conteúdo em português e a fornecer tutoriais traduzidos, adaptando-se rapidamente às necessidades dos usuários brasileiros. A plataforma se posiciona como uma alternativa descentralizada ao X, com um enfoque na liberdade de expressão e na autonomia dos usuários.
Reação Política e Movimentações de Lula
O impacto do banimento do X não se limitou apenas aos usuários comuns. Políticos brasileiros, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram forçados a migrar para outras plataformas. Lula, que possui uma forte presença nas redes sociais, redirecionou seus seguidores para o Bluesky e também para a Threads, plataforma de propriedade da Meta. Sua última publicação no X foi feita em 30 de agosto, antes da proibição entrar em vigor.
A decisão do STF reflete uma crescente tensão entre governos e grandes plataformas de tecnologia, especialmente em questões relacionadas ao cumprimento de ordens judiciais e à regulamentação de conteúdo. O caso do X no Brasil é um exemplo claro dos desafios que essas empresas enfrentam ao operar em diferentes jurisdições, cada uma com suas próprias leis e expectativas em relação à moderação de conteúdo.
Desafios e Oportunidades para o Bluesky
Enquanto o X enfrenta uma queda dramática em seu valor de mercado e desafios legais significativos, o Bluesky se encontra em uma posição única para capturar uma base de usuários significativa. A plataforma precisa, no entanto, lidar com questões de infraestrutura para sustentar o rápido crescimento. A carga adicional no servidor e os problemas técnicos são um lembrete de que o crescimento rápido pode trazer desafios inesperados, exigindo uma adaptação rápida e eficaz.
O crescimento da Bluesky no Brasil pode servir como um modelo para o que pode acontecer em outros mercados, caso o X continue a enfrentar desafios legais e financeiros. A adoção da Bluesky por milhões de brasileiros em poucos dias destaca o potencial das plataformas descentralizadas em um cenário de crescente desconfiança em relação às grandes empresas de tecnologia.
Além disso, o caso levanta questões importantes sobre o futuro das redes sociais descentralizadas e o papel que elas podem desempenhar em um ambiente digital em rápida evolução. A capacidade da Bluesky de manter seu crescimento, enquanto lida com os desafios técnicos e se adapta às demandas de uma base de usuários global, será um indicador importante de seu sucesso a longo prazo.
Conclusão: A Nova Era das Redes Sociais no Brasil
O banimento do X no Brasil marcou o início de uma nova era para as redes sociais no país. Com milhões de usuários migrando para alternativas como a Bluesky, o cenário digital brasileiro está passando por uma transformação significativa. Essa mudança não só reflete a crescente importância das plataformas descentralizadas, mas também destaca os desafios que essas plataformas enfrentarão à medida que continuam a crescer.
Enquanto o X luta para recuperar seu valor e lidar com as consequências de sua proibição no Brasil, a Bluesky se posiciona como uma alternativa viável, pronta para capturar a atenção e o engajamento dos usuários brasileiros. O futuro das redes sociais no Brasil está em jogo, e as decisões tomadas nos próximos meses serão cruciais para definir o rumo dessas plataformas no cenário global