Atualizado em 09/09/2024 por Ana Luiza
A Friend.tech, plataforma de rede social descentralizada baseada na blockchain, enfrentou uma série de desafios no último domingo, 8 de setembro. O token nativo da plataforma, FRIEND, registrou uma desvalorização de 26% após os desenvolvedores do projeto transferirem o controle de seus contratos inteligentes para o endereço nulo do Ethereum. Essa ação bloqueou o sistema, impossibilitando futuras atualizações e levantando questões sobre o futuro da plataforma Web3.
A decisão que abalou o mercado cripto
A equipe da Friend.tech anunciou, por meio de uma publicação na rede social X (anteriormente Twitter), que os contratos inteligentes estavam efetivamente fora de seu controle. Ao realizar essa transferência, a equipe cortou qualquer vínculo que pudesse permitir a atualização ou a modificação do sistema. No comunicado, eles reforçaram que “nenhuma taxa dos contratos inteligentes ou do site vai atualmente para a equipe de desenvolvimento”. Essa medida, embora abrupta, parece ter sido uma tentativa de descentralizar completamente a plataforma, removendo qualquer governança dos desenvolvedores sobre o código base.
A reação do mercado foi imediata. Dados do CoinGecko mostram que o token FRIEND, negociado a US$ 0,09, caiu para US$ 0,059 no mesmo dia. Embora o valor tenha se recuperado um pouco, chegando a US$ 0,075 na manhã de segunda-feira, as perdas acumuladas na semana chegaram a 48%. No mês, a desvalorização foi de 32%. A incerteza em torno do futuro da plataforma parece ser o principal fator por trás dessas quedas expressivas.
O crescimento explosivo e os desafios da Friend.tech
Lançada em agosto de 2023 na blockchain de segunda camada da Coinbase, chamada Base, a Friend.tech rapidamente ganhou popularidade dentro da comunidade cripto. Seu modelo de funcionamento, no qual usuários podem adquirir “compartilhamentos” de influenciadores e personalidades da plataforma em troca de acesso a bate-papos privados, despertou tanto entusiasmo quanto controvérsia.
Inicialmente, a plataforma chamou a atenção por superar até mesmo os ganhos diários da blockchain Ethereum. No auge de seu crescimento, a chave principal do fundador pseudônimo da Friend.tech, Racer, foi vendida por 8,9 ETH, o equivalente a cerca de US$ 14,5 mil na época. Contudo, com o passar do tempo, a atividade de negociação começou a cair, à medida que novos desafios surgiam e a plataforma enfrentava dificuldades para manter o ritmo de crescimento.
Em maio de 2024, após críticas de usuários e investidores, Racer chegou a manifestar publicamente o desejo de abandonar a Base, o que gerou incertezas adicionais sobre o futuro da Friend.tech. Essa declaração provocou uma nova queda no preço do token FRIEND, forçando a equipe a repensar suas estratégias. No entanto, mesmo com a decisão de permanecer na blockchain Base, os problemas continuaram a afetar a plataforma.
O que é a Friend.tech?
A Friend.tech surgiu como uma rede social descentralizada construída na Base, a solução de segunda camada do Ethereum, incubada pela Coinbase. A proposta da plataforma é permitir que personalidades e influenciadores ofereçam “compartilhamentos” a seus seguidores. Esses compartilhamentos, por sua vez, garantem aos usuários o acesso a salas de bate-papo privadas, onde se espera que os influenciadores ofereçam informações e benefícios exclusivos para seus fãs.
Esse modelo de interação atraiu rapidamente a atenção da comunidade cripto, levando a uma onda de novos usuários e especulação financeira. A facilidade de monetizar seguidores através de compartilhamentos, além da promessa de conversas e vantagens exclusivas, fez com que a plataforma atingisse um grande número de usuários em um curto espaço de tempo. No entanto, a pressão por atualizações e melhorias no sistema, bem como a crescente competição no mercado de redes sociais baseadas em blockchain, começaram a pesar sobre a Friend.tech.
A decisão de renunciar ao controle dos contratos inteligentes adiciona uma camada de complexidade ao futuro da plataforma. Embora isso possa representar um movimento em direção à verdadeira descentralização, também levanta preocupações sobre a capacidade da Friend.tech de inovar e continuar atraindo novos usuários.
O impacto no mercado cripto
A queda no valor do token FRIEND não passou despercebida pelos analistas do mercado cripto. A ação dos desenvolvedores de renunciar ao controle dos contratos inteligentes trouxe um misto de reações, desde aqueles que veem isso como um passo rumo à verdadeira descentralização, até os que interpretam a medida como uma admissão de fracasso na gestão da plataforma.
O impacto dessa decisão também reacendeu debates sobre o futuro das redes sociais descentralizadas e os desafios que esses projetos enfrentam para competir com plataformas tradicionais centralizadas. A Friend.tech, que já havia enfrentado dificuldades para manter a atividade de negociação, agora precisa lidar com a incerteza sobre como irá operar sem a possibilidade de futuras atualizações.
Em paralelo à essa movimentação, a comunidade cripto vem acompanhando de perto a volatilidade de outros projetos de redes sociais descentralizadas, muitos dos quais enfrentam obstáculos semelhantes em termos de governança e desenvolvimento.