Atualizado em 13/05/2022 por Maria Clara
Autoridades impostas por Moscou na cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, a primeira atacada pelas tropas russas durante a invasão, pretendem pedir ao presidente Vladimir Putin que anexe formalmente a região ao território russo.
A Rússia já está introduzindo a sua moeda, meios de comunicação e serviços de internet em Kherson e em outras partes da Ucrânia ocupadas pelo exército russo.
Concentração da Rússia em Kherson
As forças russas ocuparam Kherson no início de março, uma semana após o início da invasão da Ucrânia.
Ela foi a primeira cidade importante a cair. Antes da invasão, sua população era de 290 mil habitantes, mas segundo seu antigo prefeito, cerca de 40% dos moradores deixaram a cidade desde então.
Se a Rússia pretender ocupar o sul da Ucrânia e estabelecer uma ligação por terra até a Crimeia, Kherson, localizada na foz do rio Dnieper no litoral do mar Negro, será fundamental, segundo o Ministério da Defesa do Reino Unido.
Mudanças impostas pela Rússia em Kherson
Autoridades militares russas destituíram o prefeito eleito de Kherson. Segundo a agência de notícias estatal russa Ria, Ihor Kolykhaiev “não estava cooperando” com as forças de ocupação. Ele foi substituído por uma administração pró-russa para a cidade e a região.
O acesso aos canais de TV ucranianos foi bloqueado e os provedores de serviço de internet locais foram substituídos por provedores russos. Os moradores de Kherson foram forçados a ouvir estações de rádio pró-russas em busca de notícias.
A Ucrânia afirma que o objetivo da Rússia é “tornar sua propaganda falsa uma fonte de informação incontestável”.
O novo governo regional também está eliminando progressivamente a moeda ucraniana, a grívnia, e introduzindo o rublo, da Rússia. O período de transição é de quatro meses e começou em 1 de maio, com as autoridades proibindo as remessas de dinheiro ucraniano para os bancos.
Moradores de Kherson afirmaram que as autoridades militares começaram a pagar aposentadorias em rublos, mas muitos estão tentando encontrar formas discretas de desafiar forças russas, incluindo a troca de rublos por grívnias.
Decisão da Rússia sobre fazer um referendo
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky advertiu os moradores de Kherson de que a Rússia pretende convocar um referendo naquela região para decidir sobre sua separação da Ucrânia e a formação de uma “república popular”. Zelensky aconselhou as pessoas a não fornecer dados pessoais para as autoridades russas, como números de passaporte, pois eles poderão ser utilizados para falsificar votos.
O Ministério da Defesa britânico afirmou, em atualização de equipe de inteligência do mês de abril, que o referendo seria uma forma para que a Rússia justificasse sua ocupação da Ucrânia. Mas o ex-prefeito Kolykhaiev afirmou que ele seria ilegal, já que Kherson oficialmente ainda é parte da Ucrânia.
Já o presidente Zelensky afirmou que o referendo se enquadra nos planos russos de fragmentar a Ucrânia, criando “pseudorepúblicas” em todo o país. Aparentemente, confirmando o cenário, o vice-chefe do governo de Kherson instalado por Moscou, Kirill Stremousov, afirmou na quarta-feira (11) que “será apresentado um pedido para tornar Kherson um assunto da Federação Russa”.
Pouco depois, o porta-voz do Kremlin Dmitry Pskov afirmou que os moradores locais deverão decidir sobre seu próprio futuro e mencionou a Crimeia como exemplo.
A mudança de vida das regiões separatistas da Ucrânia
A Rússia anexou a península da Crimeia em 2014, após um referendo considerado inválido pela Assembléia Geral das Nações Unidas.
Moscou estabeleceu uma ligação entre Crimeia e o sul da Rússia, para onde transportou armas, introduziu o rublo e eliminou a grívnia. E a imprensa pró-russa agora é dominante na península.
Mas a situação em Kherson é ainda mais próxima da Crimeia que nas duas regiões do leste da Ucrânia tomadas por forças pró-russas pouco depois da anexação da península. Os líderes pró-russos locais criaram as chamadas repúblicas populares em Luhansk e Donetsk, onde também adotaram o rublo e forneceram passaportes russos para a população.
A Rússia paga aposentadoria e salários aos funcionários do governo na região. Nas escolas, as crianças aprendem conforme o currículo escolar russo e a Ucrânia queixou-se para Moscou sobre a “russificação” do leste da Ucrânia.
Até o momento, não há indicação da anexação de Kherson, mas apenas da criação de uma república popular. Votações similares em Luhansk e Donetsk foram amplamente rejeitadas em maio de 2014, sob acusações de fraude e ilegalidade.
Mas comenta-se que a Rússia esteja planejando outros referendos nas duas regiões, sobre a sua anexação à Rússia. A Ucrânia disse que todos os votos considerados fraudados serão anulados.